Arenito sagrado : uma proposta de intervenção entre paisagens dialéticas

Abstract

Eis um convite a conhecer e compreender uma paisagem, talvez não tão única no cenário goiano, mas única em seu conjunto que a caracteriza como antropogeográfica - que ao longo do tempo foi criada/transformada pela apropriação humana. A Serra do Cristo de Paraúna - Goiás, lá pelas bandas do sudoeste do estado - ‘pro’ lado de Rio Verde - apresenta a verdadeira manifestação de fé que se liga diretamente à uma das vastas riquezas naturais do município: as suas formações rochosas. Com uma paisagem natural composta pela associação de relevos acidentados e planícies, o município apresenta diversas formações areníticas naturais que dão uma gigantesca identidade e potencial turístico àquele lugar. É aí que tal potencial merece um reconhecimento aprofundado ligado aos mais diversos âmbitos que o estudo permite. Mais especificamente, em um marco da paisagem natural do município, a Serra do Cristo, que se eleva majestosa sobre o centro da cidade e impõe-se como cenário para o cotidiano da população paraunense. Em complemento, o termo “paisagem antropogeográfica” manifesta-se através, principalmente, da fé, haja vista que desde 1944, com a construção da Capela de Nossa Senhora da Guia, no alto dos 35 metros da serra, a devoção agrega valores afetivos à localidade. São 75 anos de pura manifestação de fé, que abraçam o lugar e faz com que a tradição se firme em procissões, peregrinações e celebrações. Por outro lado, é necessário fazer um resgate de diferentes olhares sobre a Serra do Cristo: quer pelo olhar de um turista, de um estudioso, de um agnóstico e dentre outros, de modo a analisar (no sentido etimológico da palavra) a Serra do Cristo. 08 Aproximar olhares que busquem compreender o impacto que tal elemento possui sobre o lugar, sobre os habitantes e até mesmo o contrário: o impacto humano sobre ele. Compreendido o lugar e sua multiplicidade de relevâncias (científica, estética e histórico-cultural), há de se desenvolver o que pode ser proposto como melhorias àquela paisagem. Responder inquietações que o estudo ao longo deste trará. Em primeiro instante, vale adiantar a carência de uso dos espaços públicos (diretamente ligados à serra) devido à falta de programas que atraiam vitalidade ao local. Também, adequar o espaço à acessibilidade que a paisagem carece, tendo vista a subida com inclinações superiores à máxima exigida pela norma de acessibilidade. Ainda, vale dar espaço à construção de um templo ecumênico, que reverencie a matéria rochosa (vide sua relevância ao município). Com o olhar além da Serra do Cristo, propriamente dita, há de se avançar através do elemento natural, que funciona como barreira e separa um centro urbano consolidado ao norte e um ambiente carente de qualificação urbana ao sul. Diante de tudo, é aí que se torna interessante um circuito em narrativa pelo local, onde paisagens se transformam. Embora com linguagens diferentes, elas dialogam por uma conexão a ser sentida pelo visitante ao lugar. Para tanto, é vital ressaltar termos que culminem na compreensão do espaço proposto ao projeto: peregrinação, paisagem antropogeográfica, devoção, espaços públicos, tradição, paisagem natural, imagem e memória. Explorar e associar tais termos é um princípio do que gira em torno da essência a ser buscada no lugar.